sábado, 25 de julho de 2015

Ainda Geni (e o Zepelim)!!!

Décadas depois se seu lançamento, em 1978, a música Geni e o Zepelim, de Chico Buarque, ainda se faz atual, como as grande obras expressivas de uma época, que carrega consigo o completo sentido a que se remete.

A dor e a super realidade invadem a música e a letra, representando carga emotiva que extravasam seu conteúdo e derramam no perfil social que construiu e continua construindo nossa dinâmica.

Pode-se dizer que ainda somos Geni, tal qual representada por Chico e ainda mal/mau interpretada por muitos, reduzindo-a a poesia e à figura feminina borrada... é lógico que suas interpretações são livres, mas o conteúdo é cheio de sentidos!



GENI E O ZEPELIM
(CHICO BUARQUE)

A LETRA DA MÚSICA

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo – Mudei de idéia
– Quando vi nesta cidade
– Tanto horror e iniqüidade
– Resolvi tudo explodir
– Mas posso evitar o drama
– Se aquela formosa dama
– Esta noite me servir

Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
– e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni


UMA INTERPRETAÇÃO
(por Marcelo Sanches Barce)

Eu vejo da seguinte maneira:
A música metaforicamente conta 3 momentos do Brasil em ordem cronológica.
A “Geni” representa o governo e o “Zepelim” representa o golpe militar.

NA PRIMEIRA PARTE (antes da chegada do “Zepelim”):

“Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni”

A “Geni” é o governo João Goulart que estava promovendo a reforma agrária e políticas sociais para tirar o povo da pobreza, principalmente das áreas mais negligenciadas do interior e norte do país.
O “povo da cidade” – das áreas ricas do país, principalmente São Paulo – acusava este governo de ser “esquerdista, comunista” e “jogava pedras” nele e no povo das áreas menos desenvolvidas, mais pobres, como os caipiras, os nordestinos, nortistas.
A Marcha da Família foi um exemplo prático dessa oposição do “povo da cidade” ao governo Jango e um possível Brasil “comunista”.
Este ódio foi incentivado pelos EUA, que queriam ter certeza de que a América Latina não tinha tendências comunistas/socialistas e pretendia ajudar na implantação de um governo de direita.

NA SEGUNDA PARTE:
Vem o “zepelim”, que é o golpe militar em si, expulsando os opositores, destruindo os projetos do Jango e tomando posse da Geni (do governo).
E aí, o “povo da cidade”, se surpreende e fica apreensivo com o momento do golpe:

“A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo – Mudei de idéia”

O governo fez reformas econômicas, no que ficou conhecido como “milagre econômico”, e através das propagandas, tentava mostrar que o país ia melhorar, que era um país promissor e poderoso… vistoso.

A música narra perfeitamente isso neste trecho:
“A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão”

Um exemplo prático é o slogan do governo da época, “Brasil, ame-o ou deixe-o” e a música “Pra Frente, Brasil”, era um governo orgulhoso e se dizia que o Brasil era o “país do futuro’.

NA TERCEIRA PARTE:
Chico prevê como seria o fim da ditadura, a despedida do “Zepelim”, que depois de se saciar e fazer muita sujeira, iria embora num dia de nuvens frias, um momento conturbado:

“Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria”

A música é cíclica, espero que tenham entendido e gostado da minha interpretação.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Mapa Conceitual... Uma forma de compreender e fixar conteúdos!

Pessoal,

Fica essa dica de modelagem de aprendizagem. É uma ótima ferramenta para estudar, fixar conteúdos e preparar aulas...

Nesse tutorial seguinte a parte das apresentações não são bem mostradas, mas a construção de um Mapa Conceitual e as ferramentas básicas são muito bem apresentadas!


É baixar o aplicativo (programa: http://cmap.ihmc.us/) e exercitar!

Vou postar um tutorial sobre como elaborar apresentações usando esse mesmo programa!

Façam bom uso! Espero que sirva pra você!

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Qual a sua sociedade?

Em reunião da CPI da Violência Contra Jovens Negros e Pobres, o Deputado Federal Delegado Eder Mauro (PSD/PA) não se conteve e acusou o Deputado Jean Wyllys (PSol) de produzir projetos "para destruir famílias", quando debatiam sobre a possibilidade de ampliação do discurso da legalização e regulamentação da comercialização das drogas! 



Qual família? Nosso conceito de família vem mudando! Nossa sociedade vem mudando...

Concordo que devemos ter e preservar um conceito central em relação a "família". 

Sei que isso é apego à tradição. E talvez eu seja um tradicional em relação ao foco da construção da base social familiar.

Esse efeito danoso apontado pelo delegado de polícia deputado é super relevante! 

Não se pode comparar os efeitos microssociais (familiares) do uso de entorpecentes com o uso legal e liberado do álcool, por exemplo.

Concordo, em partes com o deputado Jean  quando aponta outro efeito de deixar drogas como maconha, cocaína e crack na ilegalidade, sendo causa de lotação de nossos presídios e da causa de grande parte da morte da classe mais pobre e desassistida.

Só não considero que a legalização e regulamentação seja uma saída. Esse garotos pobres, aos quais se refere Jean, nunca venderiam drogas lícitas, pois o Estado passaria a ser o o "maior traficante" e teria o controle comercial das drogas permitidas (como o é hoje!).

Quem já viveu de perto esse efeito danoso do uso de entorpecentes, seja ele legal ou não, sabe do risco que seria "liberar geral" o comércio e uso desses psicotrópicos. 

Muita família iria LEGALMENTE para o fundo do poço junto com o usuário! 

Nosso sistema de saúde pública (universal) ficaria ainda mais inchado.

Mais mortes por descontrole civil ocorreriam (como já ocorrem em grande número por bêbados).

Que tipo de sociedade estamos formando?

Que tipo de família queremos instituir?

Que tipo de drogas queremos liberar?

Essas perguntas deveriam ser orientativas para a conduta de nossas políticas.

Não há resposta certa ou errada. Mas construções que estão em nossas mãos! 

O tempo não trará as respostas, como já ouvi outros deputados jogarem essas responsabilidades ao "acaso".

Nossas ações que trarão as suas próprias consequências! 

domingo, 12 de julho de 2015

Escolha a sua baía...

Todos os dias milhares de pessoas cruzam a baía de Guanabara. 

Muitos dormem. Outros preferem suas playlists. Uns correm contra o tempo em suas rotinas cotidianas. Outros aproveitam a vista e adicionam ganhos emocionais.

Seja como for... A Baía é a mesma! Suja, perigosa e congestionada! Mas também banha praias de relevância internacional e beleza sem igual!

Escolha a sua e curta! Ou não!


quarta-feira, 8 de julho de 2015

O Pior Cego...

Recente comentário na postagem do dia 30 de junho de 2015 (que apresentava uma versão de Faroeste Caboclo, da banda brasiliense Legião Urbana, contado a história da Petrobras e sua relação com o escândalo de corrupção) me trouxe reflexões...

Fui incitado a raciocinar pela comodidade com os achados de corrupção no governo atual de Dilma Rousseff e de outros governos anteriores.

Fui incitado a comparar a estratégia midiática da massificação das notícias de corrupção, evidente comportamento político partidário, com a propaganda nazista contra os judeus.

Fui incitado a raciocinar sobre meu raciocínio anterior postado...

Fui incitado a ratificar o que escrevi.

A quem fez o comentário através da postagem do link de um vídeo interessante, mas (ao meu ver) equivocado, resta-me sugerir (re) ler o post...

Esse dualismo desconstrói a possibilidade democrática de "retomada" de nossa República.

Afirmar que as críticas somente reproduzem a grande mídia restringe muita coisa salutar e muitas colaborações legítimas.

Pontos de vistas antagônicos, historicamente, transformam mais a nossa realidade a um ponto mais adequado que o simples conformismo com as questões agudas, que apontam nossas principais falhas.

Comparar a oposição e sua estratégia, por mais suja que seja, ou tão suja quanto a da situação, com o ódio nazista a uma comunidade é tomar papel de vítima e trabalhar no mesmo campo, o da propaganda ideológica. (no vídeo do YouTube https://www.youtube.com/watch?v=snccaY3AcnU )


Esse "espicha-encolhe" do debate político atual não constrói uma via segura para o planejamento de políticas públicas adequadas e realente afinada com a diversidade cultural que forma o Brasil de Todos Nós.


Continuo afirmando: O pior cego é aquele que não quer ver!


Imagem: goo.gl/Wq8mR5

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