quinta-feira, 20 de abril de 2017

Educação ou punição? Cuidado ao utilizar o VLT no Rio de Janeiro!

Desde setembro de 2016 o Veículo Leve Sobre Trilhos VLT está em circulação no centro do Rio de Janeiro, aplicando multas. Sim! Aplicando multas! Mesmo depois de um período curto e silencioso de "campanha educativa", o usuário do sistema VLT não recebe a orientação devida durante a operação.

Moderno, silencioso, cômodo, sua utilização fica manchada com a falta de informações

Imagem do VLT (disponível no site institucional)

Mesmo quem busca informações com Agentes de Transporte recebe uma classificação negativa e é logo conduzido para fora do bonde, onde recebe a multa por não ter pago a tarifa de R$ 3,80, cobrada exclusivamente através do sistema de bilhetagem eletrônica, com utilização do Bilhete Único Carioca ou Bilhete único Carioca Pré-pago.

Eis um constrangimento e afunilamento de orientação para boa utilização do modal. Nem todos que se interessam em utilizar o VLT são residentes da cidade do Rio de Janeiro e conhecem as regras que envolvem o pagamento do transporte, nem como obter tais informações.

Um dos usuários multados, em entrevistas ao Extra (Entrevistas no Extra) relatou que entrou no bonde para tomar informações, como sequer tinha o Bilhete Único, foi direcionado para fora do vagão, autuado pela TRANSGRESSÃO e informado que devia recolhimento de R$ 170 à Prefeitura do Rio de Janeiro.

Que grande maneira de recepcionar seus turistas. Uma cidade com diversas atrações, que aposta no VLT como seu mais novo "patrimônio" (o que seria uma atualização cultural do uso dos saudosos bondinhos cariocas do início da expansão urbana). Parece muito mais uma armadilha para abastecer seus interesses financeiros. As regras não são claras e, mesmo a conduta mais passiva, é agraciada com uma multa quase 45 vezes maior que a tarifa. 

Imagem de usuário mostrando a multa
(disponível em Entrevistas no Extra)

Multa 45 vezes maior que a tarifa de R$ 3,80. Qual a razão do rigor dessa proporção. O efeito pedagógico de uma pena tão pesada acaba afastando o usuário (cidadão) dos meios legítimos de utilização da cidade! Ainda, em caso de reincidência, mesmo concordando com o rigor aumentado, como a base de aplicação da primeira multa é agigantado, os R$ 255,00 da segunda multa correspondem a mais de 67 vezes o custo da tarifa!

Por essa análise, ninguém seria estúpido o suficiente de reincidir numa prática desviante diante de um risco tão alto diante do preço da tarifa inicial. Mas em relação à primeira incidência, quem seria bobo em correr esse risco caso, de fato, conhecesse a regra de forma ampla, caso os instrumentos de educação aos usuários fossem eficazes.

Outro dia recebi em minha casa um casal de amigos conterrâneos. Mesmo passando pela centro do Rio com regularidade, opto por utilizar minhas integrações do Bilhete Único em outros modais, uma vez que uso barcas, metrô e ônibus no itinerário. Mas os orientei com o conhecimento que possuía do sistema: "use esse Bilhete Único Carioca Pré-pago e pague a sua passagem, a de sua esposa... NÃO DEIXE DE VALIDAR O CARTÃO POIS EXISTE O RISCO DE MULTA".

Tal orientação se deu pelo acompanhamento pela TV das regras de utilização do VLT, que nunca mencionavam a necessidade de um cartão para cada usuário. Eu, achando que seria um uso lógico, uma vez que cada passagem é debitada do cartão pré-pago, como se fosse uma modalidade de pagamento que substitui o dinheiro em espécie, considerando que o bilhete não estava associado a um CPF e que não entregava benefício de integração, pensei (inocentemente) que o bom senso estaria sendo aplicado no VLT.

Ledo engano! Assim que meu amigo tentou validar a segunda das três passagens, o validador negava e emitia um sinal sonoro. Ele se dirigiu até um Agente de Transporte e perguntou (também inocentemente) qual era o problema, pois ele estava tentando pagar os demais passageiros mas não conseguis. Foram retirados do bonde, junto com esposa, filha e babá, e "orientados" quanto às regras de utilização do VLT, não sem antes ser autuado pela transgressão.

Não adiantou nada informar que não conhecia a regra, que era turista, que recebera orientação divergente, que não estava tentando fraudar, ou que não estava se eximindo de pagar, nem que sequer dispunha do meio de pagamento. Teve seu CPF associado à inscrições no débito à Prefeitura do Rio de Janeiro no valor de R$ 170. Teve que comprar mais dois cartões (ao custo de R$ 3,00 cada) e abastece-los para, somente então, seguir viagem rumo ao AquaRio.

Mapa do VLT (disponível do site institucional)

Uma experiência super desagradável na substituição de um passeio que deveria ser "leve". Essa armadilha armada e muito eficiente, acabara de fazer mais uma vítima. Isso afasta a percepção de "Cidade Maravilhosa" de quem busca viver a cidade e seus meios mais rotineiros.

Parece prevalecer a canção "malandro é malandro e mané é mané, podes crer que é (...)". Afinal, aqueles que vem visitar a cidade do Rio do Janeiro, ou mesmo aqueles que fazem dela sua residência, local de estudo ou de trabalho, podem continuar vivendo nessa dinâmica de superestruturas ou de instituições totais, com medo de receber punições que nem mesmo conhece, que seguem uma lógica própria, longe do bom senso?    

Depois de percebe que as regras não estavam claras, que minha pré-noção do uso do VLT era falha, resolvi ser mais ativo na busca elas informações. Achei um site institucional interessante: Site do VLT Rio

Nele existe orientações sobre o bom uso do modal e mapas orientativos contendo linhas e estações, bem como trechos futuros e sob obras.


No site ReclameAqui há muitas ocorrências parecidas, sendo denunciadas e projetando uma imagem negativa da concessionária que explora o VLT. No site, o índice de resolução é muito baixo, pouco mais de 9% das reclamações recebem solução, o que acarreta na imagem negativa do modal, com o status "Não recomenda" gravado na avaliação dos doze últimos meses dos usuários. Não é por ser um canal de reclamações que a imagem fica negativa entre os usuários, pois outras instituições gozam do status de "Recomendado" no mesmo canal.  VLT no ReclameAqui

Essa ARMADILHA, que arrecada ao município, replica a percepção que constrói a lógica do inimigo. O cidadão usuário é visto com desconfiança pela autoridade pública, que produz instrumentos (regras) para coibir o desvio que estaria latente na ação privada (individual). Assim, Prefeitura eleve seus cidadãos como inimigos potenciais, o que reforça a visão negativa dos usuários, que se distanciam das instituições e não recebem as informações de forma adequada; ou porque tais informações sequer estão disponíveis ou por pura falta de interesse do usuário, sobre o qual recai a CULPA das falhas sistêmicas.

Ação educativa é pretendida na punição, mas será a melhor pedagogia para conciliar instituições públicas e indivíduos usuários de tais instituições? Bom, no caso do VLT, pelo menos, não parece ser!

Links úteis:




quarta-feira, 19 de abril de 2017

Paralisação da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ)... É piada? (ohhh, Peixoto!!!)


Ainda sobre a crise na segurança pública, exemplar no Espírito Santo, com as queixas de familiares de policiais militares em relação à defasagem salarial...

No período em que movimento similar foi barrado no Rio de Janeiro, quando o comando negou a existência de similaridade com o Estado vizinho, mesmo quando passávamos nas entradas de alguns batalhões e as víamos tomadas por mulheres, mães e filhos de PM’s, nesse mesmo período rodou um áudio pelo WhatsApp (acompanhado ou não da seguinte imagem).



Link para o texto do Extra

Click para ouvir a paródia com CONTEÚDO do áudio

Muitos tomaram como chacota a fala de um pretenso militar que utilizava como interlocutor outro policial carioca, o Peixoto. No áudio, o policial fazia menção à continuação dos trabalhos “regulares” na função, que preferiria estar de serviço com os instrumentos estatais para praticar atividade ilegal e produzir alguma renda “extra”, já que o Estado do Rio de Janeiro já se encontrava em situação de dificuldade de cumprir os pagamentos das folhas dos servidores.

Como em qualquer outra PIADA, o que nos faz rir é um desfecho fora da convenção social moral, algo que desconecta os sentidos e choca pela possibilidade improvável do evento. No caso do vocativo PEIXOTO, o conteúdo da comunicação é uma representação da realidade, mas que se percebeu como contrapeso ao movimento de paralização no Rio de Janeiro.

Se confere, ou não, com as práticas de policiais militares do cariocas, o fato foi que o que ocorreu no Espírito Santo não se replicou com a mesma proporção no Rio (como temiam os cariocas e, principalmente, o alto comando da PMERJ). Que tem lógica, mesmo que perversa, isso tem. O áudio retrata a realidade de muitos moradores e policiais em ações com respaldo estatal, mas com interesse privado que se relaciona a outra lógica e a microrrelações de poder.

Diante de uma de uma piada tragicômica dessas, rir é realmente o melhor remédio?

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