Por Rodolfo Juarez
Meu pai, que nasceu no dia 7 de outubro de 1922, era um homem afeito a leitura, tanto que, mesmo morando no interior do Município de Afuá, mantinha estreita relação com o pensamento dos autores épicos, contemporâneos, modernos e narradores da realidade nacional e mundial, surpreendia a todos que o visitavam com uma rara e variada biblioteca que, além dos livros, tinha no acervo todas as grandes revistas de circulação nacional da época, como os jornais paraenses dos quais tinha assinatura e os recebia conforme a entrega dos Correios.
As publicações com as notícias da segunda guerra mundial, fossem em revistas ou em livros, tinham especial zelo e lugar de maior segurança, nas prateleiras de madeira bruta, da estante da casa onde boa parte de suas paredes era de palha de “buçu”, dispostas conforme uma técnica que até hoje não conheço a origem. Sei que era seguro, absolutamente impermeáveis e colocadas sem uso de pregos.
A caligrafia do meu pai rivaliza em contornos, disposição e criatividade com a do professor Diniz, secretário do Colégio Amapaense por muito tempo; com a caligrafia do Suçuarana, perfeito na elaboração de atas, seja como secretário na diretoria do Amapá Clube, seja como secretário de comissões na Divisão de Obras do governo Território do Amapá.
Meu pai era o que se diz hoje – uma pessoa “ligada”.
Foi nos seus livros que tive os primeiro contatos com Machado de Assis, Casemiro de Abreu, Manoel Bandeira e tantos outros; como também é de lá que lembro da “Volta ao mundo em 80 Dias”, uma aventura clássica escrita pelo francês Jules Verne, e publicada pela primeira vez em 1873; de “Robinson Crusué”, a mais célebre aventura de Daniel Defoe, escrita em 1719, obras que só fui conhecer a sua importância com o professor Munhoz, nas aulas de Literatura, nacional e mundial, no Curso Científico do Colégio Amapaense.
Ficaram gravadas na minha memória frases que li, quando já morava e estudava na sede do Município de Afuá, nas revistas “O Cruzeiro” e “Fatos e Fotos”. Da coleção que meu pai vazia questão de guardar, por causa dos registros políticos, sociais e esportivos. A lembrança mais viva é da manchete da revista “O Cruzeiro” que dizia, a propósito da vitória, por dois a zero, da seleção brasileira de futebol, em 1958, pelas quartas de final da Copa do Mundo: “O Sputnik brasileiro Vavá, assombrou a União Soviética”.
Meu pai, posso dizer, era uma analista de cenário, falava com incrível fluência, ligava os fatos da atualidade com suas prováveis origens em passado recente ou remoto. Fazia suas projeções dentro de uma lógica incrível e, por isso, muitas se confirmavam. Tinha a consciência de que os acontecimentos no futuro era o resultado dos planos elaborados no presente, destacando os seus objetivos e os ajustes naturais que teriam que sofrer devido à falibilidade humana comprovada desde o começo de tudo.
E o que diria meu pai, se vivo estivesse, analisando o futuro próximo do Brasil e do Estado do Amapá?
O Brasil, saindo de era Lula, marcada pela forte personalidade do presidente operário, Luiz Inácio Lula da Silva e entrando em uma fase onde uma mulher, com sua sensibilidade, diz estar disposta a manter o rumo, inserindo as suas próprias idéias de poder e desenvolvimento; e o Amapá, saindo da era Waldez, marcada por escândalos e voltando a ter como governador um Capiberibe?
Meu pai saberia o que dizer. Mas foi chamado muito sedo, no dia 3 de dezembro de 1973. Sinto muito a falta de Heráclito Juarez Filho, meu pai.
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