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MINHA VIDA...

Foi ali, sentado numa das esquinas de minha infância, que percebi o valor da vida. Não que nunca tivesse refletido sobre isso, mas é num momento ímpar de nosso raciocínio que as coisas se encaixam.

Quanto mais simples os pensamentos, mais fixos eles ficam em nossas mentes. Sabe, nunca fui do tipo de pensar em palavras, ou formar frases imaginariamente. Refletia muito mais considerando sensações, emoções, sentimentos.

Sei lá. Em filmes e contos escritos temos muitos exemplos em que o autor escreve seus pensamentos. Não sei se sou capaz de reproduzi-los dessa forma. Talvez tenha desenvolvido essa “habilidade” desde a infância.

Infância. A minha foi muito rica em experiências e autoaprendizagem. Não que meus pais fossem relapsos, mas deixavam uma criança de dez anos de idade livre pra aprender. Eu me machuquei e serei algumas vezes até aprender que correr descalço no asfalto fazia bolhas na sola do pé.

Aprendi, também, como cortejar as vizinhas. Como correr desesperadamente pra fugir da mãe no pega-pega ou pra pegar a bandeirinha do time adversário. Como me esquivar de convites e colegas não recomendados. Como mentir pros meus pais pra não apanhar (quem nunca ocultou uma informaçãozinha deles?).

Cresci. Estudei. Casei. Saí da casa dos meus pais. Tive filhos. Amei. Errei. Arrependi-me. Voltei. Briguei. Confundi-me. Procurei um lugar pra pensar. Um lugar só meu. Achei o túmulo de minha mãe. Lá chorei, conversei com Deus e comigo mesmo. Talvez ali não tivesse ninguém pra me julgar ou julgar os outros. Mas ainda não era meu lugar. Era o túmulo da mamãe.

Centrei-me. Reequilibrei-me. Respirei e encarei tudo de novo. Rotina. Concertos e arestas aparadas. Parecia que tudo se iria muito bem. Deprimi. Briguei. Cansei. Procurei novo lugar pra me encontrar, pra ter um novo momento comigo e com Deus. Achei meu canto. Uma esquina de minha infância me fez recordar minhas aprendizagens, o valor da vida (mesmo quando não há mais vida), os sorrisos, os sonhos, o futuro incerto e aleatório. A vida.

Irônico é entender que no fim de tudo, voltamos ao início pra poder fazer sentido. Como um ciclo, um círculo, um símbolo de emenda perfeita que não de distingue nem início nem fim, só um fluxo contínuo e perfeito que quanto menos se explica mais se aproveita. Aproveite!

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